9 de jun. de 2016

POR DENTRO DO EPISODIO "The Broken Man"

"The Broken Man" não somente apresentou muitos desses homens e mulheres quebrados (Cão, Theon, Cersei, Arya, Jaime, além de todo um Norte devastado) como nos fez lembrar a primeira temporada de Game of Thrones. Pura trama política nostálgica. Por conta disso, neste review vou tentar focar exatamente nisso: como essas relações de remendos e quebras podem alavancar o final da sexta temporada (faltam só três episódios, gente), e qual é a importância política de cada célula narrativa.


Tyrell versus Lannister

Começamos, então, pelo centro de poder: Porto Real. Olenna Tyrell é uma das personagens favoritas de muita gente, porque ela entende muito bem o que significa brigar pelo trono. Ela arranjou casamentos, ensinou tudo o que sabe a sua neta, Margaery, e até conspirou para assassinar um rei (um só, pelo que sabemos, mas poderia ser bem mais). Ela é carinhosamente chamada de "Vovó Foda". Porque, bem, ela é foda. Nesse ponto, "The Broken Man"
fez um lindo trabalho ao mostrar o que sapiência e poder realmente são, ao colocar personagens versados diante de gente que apenas acredita ser tudo isso.

Vovó Foda sabe quando é a hora de retroceder. Não era a hora de atacar ninguém, e ela sabia que deve confiar na neta, além de compreender que sua vida estava em perigo. A maneira mais simples de continuar no poder é sobreviver aos seus inimigos. Para tal, às vezes é preciso se diminuir. Vovó Foda entendeu tudo isso, e ainda deixou bem claro para Cersei que Porto Real estava cheio de inimigos, para ambas.

Olenna visita a neta, Margaery Tyrell.


Inclusive, Margaery absorveu esse conhecimento muito bem: ela agora tem a benção da Igreja para poder colocar sua sexualidade em alta frente ao rei. Achei isso bem esperto da parte dela. Inclusive, ainda bem que o episódio deixou claro que toda essa devoção da rainha é só um ótimo fingimento. Ela percebeu que é observada o tempo todo pela Septã (e, por favor, vamos matar essa Septã maldita?). Ao menos, o discurso do Alto Pardal foi bem mais curto nesse episódio. Outra coisa importante de se lembrar é que o Alto Pardal chama a Vovó por sua alcunha, Rainha dos Espinhos. Não falar o nome correto de alguém é como tentar se impor de cara, minimizando o oponente.

Agora, vamos combinar que a situação de Cersei não é das melhores: se ela não fizer nada, vai a julgamento; se ela fizer algo, pode acabar morta antes de haver um julgamento. Será que chegou a vez de Cersei? Eu não me assustaria se ela e Jaime morressem nessa temporada. O único motivo pelo qual isso não aconteceria seria para não destruir todos os chamados vilões -- ou personagens odiados -- de uma tacada só. Além disso, Cersei pendeu para a política e não para a loucura desenfreada, então talvez ela esteja aprendendo. A conversa entre Olenna e Cersei foi um dos pontos altos do episódio.

Tully versus Lannister

A única maneira de fazer Olenna ser ainda mais incrível é se ela fosse aliada de Brynden Tully, o Peixe Negro. Você se lembra da terceira temporada, quando ele atirou uma flecha sem olhar, e acertou? Que bela maneira de apresentar um personagem! Em "The Broken Man", Peixe Negro e o Regicida têm uma das melhores conversas hostis pré-batalha que já vimos em Game of Thrones, que termina com um certeiro “Pois é, te vi. Estou decepcionado”.

Peixe Negro e sua armadura escamosa.


Jaime começou a contenda animado: o Peixe Negro tinha apenas os Freys como inimigos (e eles são bem bobões), fazendo promessas que nunca cumpririam e criando um cerco que nunca funcionaria. O Lannister mais charmoso surgiu com pompa, com uma armadura bonitona, acompanhado de um exército de verdade, com estratégia e ao lado de um Bronn engraçadão -- o alívio cômico da série quando Tyrion não participa de um episódio. Até que ele foi conversar com o Peixe Negro -- que já começou chamando Jaime por seu apelido.
Depois disso, Brynden apenas lembrou Jaime que quem tem mais a perder são os Lannisters e os Freys: os Tully estão quase acabados, e essa batalha é o canto do cisne da casa. Pela lógica, ter castelo, homens e provisões realmente dá uma vantagem para o Peixe Negro. Em tempo, Sansa enviou Brienne para lá, o que deve ser mais uma adição boa ao exército dele.

Jon e Sansa versus o Norte

Ah, a visão romântica do Norte. Que é um local de honra, de amizade, de muitas cervejas e gente durona. Bem, isso acabou assim que Robb não cumpriu com os seus deveres. Se um Lorde não desempenha as tarefas que são esperadas dele, por que seus vassalos fariam o mesmo? Esse novo Norte é um reflexo triste das ações tacanhas de um Stark novato. Sansa e Jon foram relembrados disso, e me pareceram bem envergonhados a maior parte do tempo -- e também bem desolados que esse Norte desapareceu. Eles, perceba, também ganharam alcunhas: Jon é apenas um "Snow", enquanto ela é uma "Bolton" ou "Lannister". Sansa ainda acreditava na honra, e Jon vive dela. Ainda bem que Ser Daavos existe, fazendo discursos no nível de Olenna e Peixe Negro.

Sansa e Jon buscam por suporte no Norte.


Se pararmos para analisar, esse sentimento de integridade do Norte apareceu bem menos nas casas nobres (salvo três) e bem mais nos Selvagens. No final das contas, é o Povo Livre que representa hoje o Norte antigo de Ned Stark. Claro, eles realmente presenciaram os mortos, eles estavam lá quando Jon morreu e voltou à vida. São contos que nem toda casa nortenha acreditaria (os Mormonts seriam a exceção, falo deles logo mais). Afinal, elas soam como histórias de terror para as crianças se comportarem: “Se não comer toda salada, o Rei da Noite vem te pegar”.
Mas quando você tem um gigante como Wun Wun na sua party e ele é o primeiro a se levantar para batalhar, você está em um local mágico e feliz. E o gigante estava certo em entrar para a luta: Jon fez mais pelos Selvagens do que qualquer homem do sul da Muralha em milênios. Aparentemente Wun Wun é o último de sua raça, e não sei se ele sobreviverá à briga vindoura. Inclusive, acho que Tormund também não. Mas sem Winterfell, os Starks (e os nortenhos) não vão sobreviver ao Rei da Noite.

Lyanna Mormont mostrou que não tem paciência pra quem tá começando (embora ela esteja).


Você tem dúvidas de quão fragilizada a região está? Ou você acredita que não tem retorno? Eu acho que ambas essas perguntas foram respondidas com a presença espantosa de Lady Mormont. Enquanto, por um lado, sua figura pré-adolescente demonstrou o quanto o Norte está cheio de feridas não cicatrizadas (a mãe dela morreu defendendo Robb), por outro, sua força e habilidade em confiar na intuição e criar aliados mostrou que o Norte tem saída, sim.
O problema é que, enquanto politicamente a carta de Sansa (provavelmente endereçada a Petyr "Mindinho" Baelish) fez todo o sentido pra quem precisa de um exército, é preciso lembrar que Mindinho não tem exatamente o jeito nortenho de fazer as coisas. De qualquer maneira, a investida de Jon e Sansa precisa desesperadamente de mais homens.

Arya versus a Casa do Preto e do Branco

Uma menina precisa de um médico. E rápido.

Há duas maneiras de olhar para esse núcleo que fazem a minha análise ser completamente diferente. Vou começar pela mais simples, e mais falha. Arya passeou pela cidade, roubou umas pessoas, encontrou um barco, andou pela rua tranquiliamente e... foi esfaqueada por Waif de um jeito cruel. Sangrando por todos os lados, ela chamou ainda mais a atenção. O que nos leva à seguinte pergunta: ARYA, O QUE RAIOS VOCÊ PENSOU QUE FOSSE ACONTECER?

Nossa querida e inocente Arya achava que estava na paz.


Depois de tanto treinamento, como Arya comete um erro grotesco desses? Não engulo, não gosto, não me venha com essa. Uma menina sai andando pela cidade, cheia de sangue, e ninguém se preocupa em ajudar? Nem mesmo uma boa alma a ajuda? Não engulo, não gosto, não me venha com essa. Se for isso, acredito que Arya deverá achar ajuda, matar Waif no próximo episódio e seguir para Westeros. Mas achei que essa sequência ficou bem ruinzinha. Ou então, ela morrerá no próximo capítulo e se tornará Ninguém de verdade. Arya, pelo menos coloca a Agulha na cintura para gente ver. Pelo menos isso.
Agora vamos olhar pelo lado de uma hipótese mais legal. Nos livros, os Homens sem Face só podem usar o rosto de quem já morreu, mas Jaqen já usou o rosto de Arya na frente dela. Ele também disse para a Waif: "Ok, pode matar a menina, mas sem fazer com que ela sofra". O que Waif fez? Girou a faca pra doer de verdade. Agora, será que Waif enfiou a lâmina em Arya? Ah, talvez não! A Arya que vimos ser esfaqueada era diferente: não tinha a Agulha em mãos, não era discreta nas ruas, não se preocupou ao se aproximar de desconhecidos. E se Arya fosse, na verdade, Jaqen, que testava Waif para ver se ela era merecedora de ser um Homem sem Face? Isso quer dizer que o embate entre Arya e Waif ainda vai acontecer. E olha, cá entre nós, Waif não é merecedora de nada.

Os Greyjoys versus o Greyjoy


Yara mostrando que se preocupa com seu irmãozinho.


Para escapar da sede de sangue do tio Euron Greyjoy, Yara e Theon tiveram um plano sólido: levar os melhores barcos da casa para Daenerys e tentar fazer um acordo com a Mãe dos Dragões. Historicamente, tanto os Greyjoys quanto os Martells são aliados naturais da Casa Targaryen, e a chegada de aliados de Westeros para Dany seria de suma importância política. Ouso dizer que a Mãe dos Dragões não tinha uma notícia tão boa desde que conseguiu o apoio dos Imaculados e dos Segundos Filhos. Claro que os Dothraki são ferozes, mas eles têm medo do mar e lutam sem amaduras -- lembre-se do que aconteceu com Drogo. Um exército de Greyjoys e alguns navios fazem muita diferença se você quer navegar para Westeros, e por isso ainda acho que Dorne deveria apoiar Dany também (eles também têm navios).
Ademais, a cena entra os irmãos apresentou um começo de cura bem bonito para Theon, mesmo que eu ainda o odeie. Yara, por sua vez, mostrou ser uma mestre da terapia da bebedeira.

Cão versus a Irmandade (round 2, fight!)

São tantas coisas a falar aqui, então vamos com calma. Achei muito interessante a maneira com que o Cão foi reintroduzido na série, não apenas pelo fan service, mas na parte técnica mesmo. A câmera nos mostrou várias pessoas que carregavam toras, até chegar em um cara que consegue fazer o serviço sozinho. Sandor Clegane nos foi mostrado como realmente é: forte, solitário, temeroso de acreditar em qualquer causa. Ainda nesse começo, dois outros fatos me chamaram a atenção:
  1. O fato de ele contar que foi uma mulher que quase o matou (vai Brienne, você é demais).
  2. O quão legal é esse septo (interpretado rapidamente pelo ator Ian McShane)! Que pena que não dá mais trocá-lo pelo Alto Pardal. Aliás, se você percebeu bem, apenas Sandor e Theon foram chamados pelos seus nomes de verdade nesse episódio -- eles sim são os verdadeiros homens quebrados.

Descobrimos a identidade do ator Ian McShane.

O retorno do Cão era bem esperado pelos fãs, e para algumas pessoas confirma a tese do "Clegane Bowl". Para explicar: a teoria diz que o Clegane mais jovem (o Cão) foi encontrado pela Fé, e ele seria o campeão da Igreja no julgamento de Cersei. Enquanto o Clegane mais velho (no caso, o Montanha), seria o representante de Cersei. Assim, os irmãos se enfrentariam em uma arena. Seria essa a razão dos Sete Deuses para ele ainda estar vivo?

Essa é a primeira parte. A segunda diz respeito à Irmandade sem Bandeiras. Sandor já enfrentou Beric Dondarrion e ganhou. Desde então, a Irmandade parece ter ficado um pouco esquisita: ganhou homens que se vestem com peles e partem para assassinar e abusar do povo que deveriam ajudar. Isso ficou estranho, não? Pois é, aqui vem a segunda parte da crítica que depende de sua visão dos acontecimentos. Se a Irmandade tirou do Cão a única coisa boa que lhe aconteceu na vida simplesmente porque queria comida, tudo bem. Mas não é só isso.

Agora, entendedores podem juntar os fatos:
  • Brienne e Jaime em Correrrio;
  • O Peixe Negro, que relembrou a promessa que Jaime fez algumas temporadas atrás de trazer Sansa e Arya de volta à família;
  • A Irmandade bem cruel, todos convertidos ao Senhor da Luz.

Esses temas podem nos levar ao fan service mais legal que ainda não aconteceu na série. Caso seja isso, eu amei a nova Irmandade. Se não, odiei. Mas, eu não vou contar sobre qual teoria estou me referindo. Se ela acontecer, você vai me agradecer por não dar o spoiler.

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